Mudanças culturais no Brasil Central: geoarqueologia de alta resolução na Gruta do Gentio II e Lapa do Boquete, MG

Resumo

As paisagens do vasto Brasil Central apresentam um claro sinal de ocupação e transformação humana desde, pelo menos, 13 ka anos AP. Dois grandes conjuntos de ocupações, um vinculado às populações de caçadores-coletores ou forrageadores (desde a transição Pleistoceno-Holoceno) e outro a grupos ceramistas com horticultura (desde a transição Holoceno Médio-Holoceno Tardio), têm sido identificados. Os depósitos sedimentares dos sítios abrigados do Brasil Central, favorecidos por excepcionais condições de preservação, oferecem o cenário ideal para compreender as transições entre esses grandes grupos de ocupações e seus modos de vida correspondentes. Contudo, pesquisas de cunho geoarqueológico orientadas tanto a evidenciar as específicas formas de alteração, modificação e construção do registro sedimentar por parte dessas ocupações, como as possíveis rupturas, continuidades e mudanças, são ainda escassas. O presente projeto visa comparar os impactos que as populações indígenas, desde a transição Pleistoceno-Holoceno até a diversificação ceramista, tiveram na formação do registro sedimentar do Brasil Central, especificamente nos sítios abrigados de preservação excepcional Gruta do Gentio II e Lapa do Boquete, no noroeste e norte do Estado de Minas Gerais, respectivamente. A proposta, a ser executada no LabMicro (MAE/USP), irá empregar geoarqueologia de alta resolução, baseada no estudo de contextos estratigráficos específicos através da micromorfologia e de técnicas elementares (XRF, micro-XRF) e moleculares (FTIR-ATR, micro-FTIR), para caracterizar depósitos derivados de diferentes atividades humanas (e.g. pirotecnologia, usos de materiais vegetais), processos naturais e suas mútuas relações e transformações pós-deposicionais.