Custo da terra para a produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil

Resumo

O aumento da produção de bioenergia é amplamente reconhecido como o principal caminho para mitigar as mudanças climáticas. No entanto, para isso, é necessário expandir a área de terra cultivada, o que gera preocupações sobre os efeitos da mudança no uso da terra (i.e., perdas de carbono e biodiversidade). O Brasil, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (~40% da produção mundial) e pioneiro na produção de biocombustíveis, tem aproximadamente 20 milhões de hectares de pastagens degradadas, oferecendo a oportunidade mais promissora para a expansão da produção de etanol de cana-de-açúcar. No entanto, ainda há falta de conhecimento sobre a resposta da produtividade da cana-de-açúcar a diferentes condições edafoclimáticas - um de seus principais fatores - nessas áreas. Assim, levantamos a hipótese de que a condição edafoclimática é o principal fator determinante dos custos da terra e das externalidades da produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil. Se essa hipótese for verdadeira, como os cenários climáticos futuros afetarão o balanço hídrico do solo e, consequentemente, a produção de cana-de-açúcar e o custo da terra? Para testar essa hipótese, usaremos dados pareados de produtividade da cana-de-açúcar e de externalidades das atuais áreas de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil, que serão obtidos por meio de uma revisão sistemática da literatura e de consultas a especialistas e empresas do setor sucroenergético. Calcularemos i) o balanço hídrico do solo para identificar as diferentes condições edafoclimáticas das áreas de cultivo de cana-de-açúcar e ii) as emissões de gases de efeito estufa provenientes da calagem e da fertilização. Além disso, serão obtidos dados climáticos futuros para simular os cenários SSP2-4.5 e SSP4-8.5 do IPCC e avaliar o efeito da mudança climática nas alterações do balanço hídrico do solo. Para avaliar os custos da terra e das externalidades, será usada um framework desenvolvido pelo Prof. Dr. Andrew Balmford, da Universidade de Cambridge. Essa avaliação fornecerá informações essenciais para o planejamento estratégico do Brasil, ajudando a identificar as áreas mais adequadas para investimentos, emitindo créditos de descarbonização (CBIOs) e apoiando seus compromissos internacionais de expandir a produção sustentável de biocombustíveis, reduzir as emissões de GEE e proteger a biodiversidade.