Avaliação do Papel da Ave Migratória Dendrocygna viduata na Disseminação de Bacilos Gram-negativos Resistentes a Antimicrobianos

Resumo

O uso abusivo de agentes antimicrobianos na medicina humana, na agricultura e na pecuária têm contribuído para o surgimento de bactérias resistentes. Embora comumente detectadas no ambiente hospitalar, bactérias multirresistentes também têm sido reportadas atualmente na comunidade. Vários estudos têm demonstrado que as aves migratórias desempenham um importante papel na ecologia, na circulação e na disseminação de genes de resistência aos antimicrobianos, agindo como vetores eficientes destes determinantes de resistência em bactérias. No Brasil, poucos estudos avaliaram o papel desses animais na disseminação de agentes causadores de doenças infecciosas, e até onde sabemos, nenhum deles avaliou a presença de genes de resistência aos antimicrobianos na microbiota dessa população. Algumas espécies de aves migratórias brasileiras migram para o estado de São Paulo, incluindo as áreas circundantes da Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Estima-se que 3.000 aves migratórias visitem o Zoológico à procura de comida e abrigo durante o inverno, entre elas, a Dendrocygna viduata (Irerê). No período de julho e agosto de 2012, um total de 700 isolados bacterianos aeróbicos restritos e facultativos foram recuperados a partir de swabs cloacais e coanais coletados de 100 espécimes de D. viduata que visitaram a área do lago do Parque Zoológico de São Paulo. Incialmente, os swabs foram semeados em meio CHROMagarTM Orientação e cada colônia mostrando cor distinta foi armazenada em criotubos contendo TSB suplementado com 15% de glicerol a -20ºC na coleção bacteriana do Laboratório ALERTA da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP para posterior caracterização. Os principais objetivos deste estudo serão: i) identificar em nível de espécie todos os isolados gram-negativos resistentes aos ²-lactâmicos, às quinolonas, aos aminoglicosídeos e às polimixinas provenientes de swabs cloacais e coanais; ii) determinar o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos dos bacilos gram-negativos resistentes aos ²-lactâmicos, quinolonas e aminoglicosídeos e às polimixinas; iii) detectar e caracterizar os genes plasmidiais codificadores de resistência aos antimicrobianos anteriormente mencionados; iv) avaliar a similaridade genética por PFGE entre os isolados resistentes; v) caracterizar a localização e o contexto genético dos genes de resistência plasmidiais encontrados. Até o presente momento, 329 isolados foram avaliados pela técnica de disco-difusão para diferentes antimicrobianos, apresentando resultados promissores. Resistência à cefotaxima, ao imipenem, à gentamicina, à ciprofloxacina e à polimixina B foram observados em 22,8% (n=75), 5,2% (n=17), 16,7% (n=55), 14,8% (n=49) e 11,5% (n=38), respectivamente. (AU)