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Variabilidade milenar no clima do leste da América do Sul e na circulação do oeste do Atlântico Sul durante os últimos 70.000 anos

Texto completo
Autor(es):
Marília de Carvalho Campos
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: São Paulo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH)
Data de defesa:
Membros da banca:
Cristiano Mazur Chiessi; Ana Luiza Spadano Albuquerque; Francisco William da Cruz Júnior; Thiago Pereira dos Santos; Felipe Antonio de Lima Toledo
Orientador: Cristiano Mazur Chiessi
Resumo

Durante a última glaciação e a última deglaciação, a Terra passou por vários eventos de mudanças climáticas abruptas, chamados Heinrich Stadial (HS) e Dansgaard-Oeschger. Os HS são comumente atribuídos a reduções na intensidade da célula de revolvimento meridional do Atlântico (CRMA). Dada a marcante influência da CRMA no clima global e a possibilidade da redução da sua intensidade no futuro devido às mudanças climáticas em curso, o estudo dos HS se tornou um tópico de suma importância. Nesta tese, os efeitos dos HS da última glaciação e da última deglaciação no hidroclima do leste (E) da América do Sul bem como na circulação do oeste do Atlântico Sul foram investigados. Para tanto, o testemunho sedimentar marinho M125-95-3 coletado em profundidades médias do oeste do Atlântico Sul tropical (10,94°S, 36,20°W, 1897 m de profundidade), perto da desembocadura do Rio São Francisco (i.e., margem E da América do Sul), foi estudado para os últimos ca. 70.000 anos. Para esse testemunho foram produzidas idades radiocarbônicas a partir de foraminíferos planctônicos, análises de fluorescência de raios-X em amostras de sedimento total, análises de isótopos estáveis de oxigênio e carbono em foraminíferos planctônicos e bentônicos, e análises de Mg/Ca em foraminíferos planctônicos. Concluiu-se que os HS da última glaciação e da última deglaciação foram marcados por anomalias positivas de precipitação sobre a bacia de drenagem do Rio São Francisco, e que esta foi a bacia de drenagem mais austral da costa sul-americana banhada pelo Atlântico que apresentou aumento substancial na precipitação. Um novo mecanismo foi proposto para explicar as anomalias positivas de precipitação na América do Sul tropical durante os HS. Este mecanismo envolve aumentos na precipitação de verão apenas sobre o E da América do Sul, enquanto o resto da América do Sul tropical apresentou aumentos de precipitação no inverno, desafiando a hipótese amplamente difundida de fortalecimento da monção nos HS. Durante os mesmos eventos abruptos, as profundidades médias do oeste do Atlântico Sul tropical apresentaram reduções de d13C e aumentos de enxofre (seu uso como indicador de mudanças milenares na ventilação de fundo é inédito), que foram atribuídos a um aumento do tempo de residência da massa de água de origem norte (MAON) e a um acúmulo de carbono respirado nas profundidades médias. Também foi sugerido que as excursões negativas em d13C aumentaram progressivamente ao longo do caminho percorrido pela MAON em direção ao sul, atingindo valores máximos no oeste do Atlântico Sul tropical, a partir de onde sofreu dissipação/diluição por mistura com a massa de água de origem sul. Com relação à porção superior da coluna de água, os dados apresentados aqui indicam que as águas superficiais do oeste do Atlântico Sul tropical estiveram mais quentes e salinas durante os HS. Dados advindos da região do vazamento das Agulhas também registraram feições similares, no entanto, com excursões positivas mais intensas. Concluiu-se que o calor e o sal importados do Oceano Índico durante os HS foram apenas parcialmente transferidos para o oeste do Atlântico Sul tropical. Assim, sugeriu-se que o sal do Oceano Índico que eventualmente alcançou as altas latitudes do Atlântico Norte e ajudou no restabelecimento da CRMA foi transportado, principalmente, pelas águas da termoclina. Finalmente, os dados apresentados nesta tese indicam que os eventos pretéritos de enfraquecimento da AMOC afetaram profundamente o hidroclima da América do Sul e a circulação do oeste do Atlântico Sul (AU)

Processo FAPESP: 16/10242-0 - Ocorrência e impacto da mega-Zona de Convergência do Atlântico Sul na porção leste da América do Sul durante o último período glacial: uma abordagem paleoceanográfica
Beneficiário:Marília de Carvalho Campos Garcia
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado