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Ensaios sobre o feminino e a abjeção na ob-scena contemporânea

Texto completo
Autor(es):
Janaina Fontes Leite
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: São Paulo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Escola de Comunicações e Artes (ECA/SBD)
Data de defesa:
Membros da banca:
Felisberto Sabino da Costa; Christine Greiner; Alexandra Maria Fernandes Moreira da Silva; Silvia Fernandes da Silva Telesi
Orientador: Felisberto Sabino da Costa
Resumo

O presente trabalho toma por mote central a relação entre o feminino e a abjeção para pensar os processos de identificação e recusa em relação a uma certa \"mascarada feminina\", cujos mecanismos de construção nos propusemos a investigar. Consonante com uma das principais referências teóricas deste trabalho, a autora Julia Kristeva, defendemos que o que se compreende como feminino no Ocidente deriva do mito materno virginal, que funda a cristandade e cinde, por dois milênios, a mulher entre a santa e a puta, a mãe e a \"outras\". Aparente dicotomia, mas que esconde o seu verdadeiro dispositivo, isso é, ser a dupla face, inseparável, de um único e mesmo ideal: a feminilidade. Como figura nevrálgica, destacamos o papel da \"mãe\" no processo de clivagem, tanto do ponto de vista social quanto psíquico, do que entendemos por feminino. De um lado, retraçamos de que forma o capitalismo, a igreja e a moral burguesa vão domesticar a mulher em nome da divisão sexual do trabalho, que vai ter na função \"mãe\" uma importante mais valia invisibilizada, naturalizada pelo \"íntimo\", \"privado\", \"afetivo\", sublinhando o esforço de teóricas como Silvia Federici de politizar essa \"função\" e ressignificar sua importância na estrutura social, política e econômica, justamente, reintegrando o \"íntimo\" às demais instancias consideradas públicas. De outro, seguimos uma linhagem mais cultural e antropológica, investigando, apoiados sobretudo no pensamento de Kristeva, a mítica de Maria dentro do cristianismo, como o protótipo de um feminino virginal, abnegado, ao mesmo tempo que todo poderoso ao ser sagrado \"rainha\" entre todas as \"outras\" mulheres. Cruzando estas perspectivas, abordamos a figura da mãe, primeiramente na obra de Angélica Liddell, no cruzamento entre uma mãe real e uma mãe arcaica, que nos esforçamos por elucidar à luz do conceito de abjeção Kristeva e de matricídio de Melanie Klein. Nossa hipótese é de que matar a mãe assume a dupla e complexa função: deslocamento das representações do feminino de um lado - como vemos na singular dialética misógina da obra de Liddell - e, engendramento de modos de ressurreição de si através do gesto criador, de outro. Sob essa ótica, o matricídio, em seus vetores de identificação e repulsa, veio a ser o mote dos processos autorais que compõem o corpo principal deste projeto: Feminino abjeto 1, Feminino abjeto 2 e Stabat Mater. Tomando as duas primeiras como espaço laboratorial e a última como um coroamento do percurso no qual a autora desta pesquisa divide a cena com sua mãe verdadeira e um ator pornô, buscamos, a partir destes trabalhos, desenvolver a ideia de uma ob-scena contemporânea verticalizando a discussão sobre o real já iniciada no mestrado, mas agora migrando de um real documental para um real obsceno. Nesse sentido, o epílogo que encerra este trabalho, que desde o princípio se enuncia de forma autobiográfica - mais saga do que tese -, encontra seu desfecho obsceno em uma zona limítrofe que colapsa qualquer pretensa dicotomia entre arte e vida. Profanação e parresía, mais do que conceitos, assumem a dimensão de gestos que, somados ao repertório da psicanálise, fornecem as bases para uma escrita implicada que se propõe a prescrutar a performance cultural e os arranjos psíquicos de um feminino abjeto: um feminino em crise. (AU)

Processo FAPESP: 17/18374-5 - O Feminino Abjeto na (OB)CENA CONTEMPORÂNEA Processos autorais matricidas em diálogo com Angélica Liddell
Beneficiário:Janaina Fontes Leite
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado