Busca avançada
Ano de início
Entree


Variabilidade na seleção de habitat por onças-pintadas em um cenário de retração da distribuição, perda de habitat e mudanças climáticas

Texto completo
Autor(es):
Alan Eduardo de Barros
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: São Paulo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Instituto de Biociências (IBIOC/SB)
Data de defesa:
Membros da banca:
Paulo Inácio de Knegt López de Prado; Adriano Garcia Chiarello; Francisco Voeroes Dénes; Vitor Vieira Vasconcelos
Orientador: Paulo Inácio de Knegt López de Prado; Ronaldo Gonçalves Morato
Resumo

A onça-pintada (Panthera onca) ocupa uma ampla variedade de regiões ecogeográficas e bioclimáticas, com subpopulações expostas a condições heterogêneas em termos de recursos, riscos e níveis de ameaça ao longo de sua área de ocorrência. A distribuição atual da espécie já se reduziu à metade da extensão original, e a destruição de habitat tem se intensificado diante de impactos cumulativos (e.g. desmatamento, assoreamento, aumento da temperatura, seca, fogo), mesmo em regiões consideradas menos ameaçadas. Nesse contexto, compreender o quanto o uso e a seleção de habitat pelas onças variam, bem como os efeitos de distúrbios que vêm ganhando relevância, como o fogo, torna-se essencial. Embora as onças-pintadas sejam frequentemente associadas à presença de cobertura vegetal e água, suas preferências de habitat variam consideravelmente, especialmente em relação aos impactos antrópicos. Apesar dessa variabilidade, a maioria dos estudos busca padrões generalizados, focando em respostas médias de seleção e muitas vezes negligenciando os fatores que impulsionam a heterogeneidade. Para abordar essa lacuna, no primeiro capítulo avaliamos a variabilidade na seleção de habitat pelas onças ao longo de sua distribuição. Primeiramente, aplicamos modelos de seleção de habitat integrados ao movimento (iSSFs) e, em seguida, utilizamos uma abordagem meta-analítica multinível. Considerando que a seleção de habitat de cada onça é influenciada pela disponibilidade de recursos e riscos em seu alcance de movimento (dentro de sua área de vida), que essa disponibilidade pode estar condicionada a proximidade ou a fatores regionais (ecogeográficos e bioclimáticos) e que características físicas como sexo, idade e tamanho, podem influenciar na motivação para movimentação e seleção, procuramos entender o quanto cada um desses fatores contribui para explicar a variação na seleção por diferentes variáveis ambientais e antrópicas. Nossos resultados revelam uma grande heterogeneidade no uso e seleção de habitat pelas onças, tanto entre indivíduos quanto ao longo de sua distribuição. Efeitos individuais e entre sítios de estudo explicaram até 68% da variabilidade nos coeficientes de seleção. No entanto, a seleção por água e a tolerância a impactos humanos foram predominantemente influenciadas pela disponibilidade dentro da escala de locomoção (com explicação adicional de até 47%). Embora tenhamos identificado respostas funcionais positivas à disponibilidade de cobertura vegetal, fatores regionais, especialmente zonas bioclimáticas, também desempenharam um papel importante na explicação da variabilidade na seleção desse recurso. Características individuais também explicaram parte da variabilidade nas respostas de seleção a variáveis ambientais e antrópicas. Esses achados destacam a importância de considerar o condicionamento à escalas ou hierarquias e a variabilidade individual nos estudos de seleção de habitat, particularmente aqueles que abrangem grandes áreas, como a distribuição de uma espécie. Ignorar essa variabilidade pode levar a conclusões equivocadas e comprometer estratégias de conservação. No segundo capítulo, exploramos os impactos cumulativos e emergentes sobre o habitat e as populações de onças-pintadas, com foco no Pantanal como estudo de caso. Investigamos como o aumento da incidência de incêndios florestais, intensificado pelas secas mais severas e pelas temperaturas mais altas, afetou áreas prioritárias para as onças e estimativas populacionais entre 2004 e 2020 no bioma. Nesse período, os incêndios de 2020 foram os mais graves, queimando 31% do Pantanal e afetando 45% da população estimada de onças (87% no Brasil). Esses incêndios atingiram 79% das áreas de vida das onças e 54% das áreas protegidas com elas sobrepostas. Além de destruir habitats essenciais, os incêndios causaram ferimentos em onças, impactando a sobrevivência devido a deslocamento, fome, desidratação, defesa de território e menor reprodução. Essas consequências também afetam outras espécies, comprometendo a estabilidade ecológica da região. Concluímos discutindo que para evitar novos mega-incêndios, é necessário combater as causas humanas que agravam a seca (sejam desmatamentos, assoreamentos ou emissões de carbono), proteger nascentes, ampliar áreas protegidas, regulamentar o uso do fogo e preparar brigadas antes do período mais seco. Algumas dessas medidas já vêm sendo implementadas desde então. Os achados da tese reforçam a necessidade de considerar, quantificar e explorar as causas da variabilidade no uso e seleção de habitat pelas onças. Tal variabilidade deve ser utilizada como parâmetro para avaliar a capacidade de generalização de modelos espaciais de cunho preditivo, como a proposição de corredores ecológicos. Além disso, ao revelar os impactos devastadores de incêndios florestais no Pantanal, evidenciamos a urgência de estratégias preventivas e adaptativas para mitigar a perda de habitats e populações. Esses resultados oferecem subsídios valiosos para ações de conservação mais eficazes, adaptadas às particularidades ecológicas e aos desafios emergentes em toda a distribuição da espécie. (AU)

Processo FAPESP: 18/24891-5 - Como as onças se movimentam na paisagem? Análises de seleção de habitat considerando movimento e tempo de residência e sua aplicação na ecologia e conservação da Onça-Pintada (Panthera onca)
Beneficiário:Alan Eduardo de Barros
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado Direto