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Xamanismo Kalapalo e assistencia medica no alto xingu: estudo etnografico das praticas curativas

Texto completo
Autor(es):
João Veridiano Franco Neto
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Dissertação de Mestrado
Imprenta: Campinas, SP.
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Data de defesa:
Membros da banca:
Vanessa Lea; Aristoteles Barcelos Neto; Renato Sztutman
Orientador: Vanessa Lea
Resumo

Esta dissertação é resultado de doze meses intercalados de pesquisa de campo realizada entre os índios Kalapalo do Alto Xingu, Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso. Busca empreender uma descrição e análise do modo pelo qual ocorre uma interação entre o xamanismo dos Kalapalo e o saber biomédico tal como esta se dá no âmbito das práticas da política nacional de atenção à saúde dos povos alto-xinguanos. O xamanismo kalapalo não difere do xamanismo praticado no Alto Xingu como um todo: consiste, basicamente, em um sistema terapêutico que aborda o fenômeno da doença como um acontecimento em que uma determinada pessoa tem a sua 'alma-sombra' (akua) capturada por um 'espírito' (itseke). O conceito de itseke se relaciona com as formas 'animais' definidas no interior da cosmologia kalapalo, e seus modos de existência são mais bem compreendidos sob a luz do conceito de ponto de vista, articulado com a lógica predatória e com o regime alimentar alto-xinguano. O xamã é acionado para que, por meio do transe induzido pela fumaça do tabaco, entre em comunicação com o itseke causador da doença e possa trazer de volta a akua do doente. A possibilidade de cura é então concebida nos termos do resgate da 'almasombra', realizado pelo xamã. As relações construídas a partir da situação de contato entre os alto-xinguanos e a sociedade envolvente engendraram a elaboração de duas categorias cruciais: doenças-de-índio e doenças-de-branco, onde as primeiras figuram como enfermidades causadas por itseke e as segundas aparecem na forma das doenças infectocontagiosas, como gripe, sarampo, caxumba, catapora, etc. A problemática que delineia nosso trabalho se fundamenta no caráter ambíguo que é assumido pela oposição entre doenças-de-índio e doenças-de-branco: da perspectiva dos Kalapalo essa dicotomia não define uma separação de natureza entre as duas categorias, servindo apenas como modo de comunicação instrumental com as equipes de assistência médica. Por outro lado, as equipes de assistência médica estabelecem um corte entre doenças-de-índio e doenças-de-branco de maneira que as primeiras configurariam uma manifestação singular da cultura indígena. Essa singularidade é pensada a partir da ideia de uma psicossomatização dos aspectos culturais, entendendo-se 'cultura' enquanto conjunto de crenças. Assim, a separação entre doenças-de-índio e doenças-de-branco, do modo como é concebida pelas equipes de assistência médica, atribui uma causa psicológica para as primeiras e uma causa fisiológica para as segundas. Essa redução das doenças-de-índio ao âmbito da crença é explorada como a configuração de uma estrutura hierárquica na qual a cosmologia indígena é englobada pela cosmologia ocidental. Tal englobamento encontra sustentação a partir do relativismo cultural, que supõe a coexistência de uma diversidade de culturas com a existência de uma única natureza. Os dados de nossa pesquisa etnográfica apontam para um arranjo distinto quando o foco de análise toma em consideração o modo como os índios kalapalo recorrem ao tratamento médico ocidental: a terapêutica xamanística não é descartada pelos índios mesmo quando o que está em jogo é aquilo que a assistência médica entende por doençasde- branco, o que sugere uma origem comum entre doenças-de-índio e doenças-de-branco: os itsekeko ('espíritos') ou os kugihé-ótomo (feiticeiros) (AU)

Processo FAPESP: 06/53193-7 - Simultaneidades terapêuticas: o xamanismo alto-xinguano e a assistência médica no Alto Xingu
Beneficiário:Joao Veridiano Franco Neto
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Mestrado