Endocanabinoidoma com ferramenta para descoberta de marcadores do desenvolvimento do eixo cérebro-intestino-microbiota nos primeiros 1000 dias de vida

Resumo

Os primeiros mil dias de vida são essenciais e, ao mesmo tempo, um período crítico e vulnerável para o desenvolvimento cerebral. Durante o período embrionário, nosso sistema nervoso central, neurônios, micróglias e astrócitos são formados e recebem suas designações específicas (mas ainda básicas) relacionadas à localização (anatômica e histológica), neurotransmissores (liberação e receptores expressos) etc. Entretanto, o processo de neurodesenvolvimento não se interrompe após o nascimento, sendo este o momento em que os processos de mielinização e organização dos contatos sinápticos e processos metabólicos, orquestrados principalmente por astrócitos começam a tomar forma. Durante os primeiros anos de vida, nosso cérebro recém-formado é extremamente plástico e, nesse período, seus componentes celulares "aprendem" como conectar-se, como comunicar-se e especializar-se para executar funções, principalmente as chamadas executivas. Todavia, também é nesse período que outros sistemas periféricos de nosso corpo iniciam processos visando ganho de função e amadurecimento. Um processo que parece acompanhar, de certa forma, o ritmo de formação e amadurecimento, em complexidade, do nosso sistema nervoso central é a microbiota intestinal. Ademais, sabe-se que a microbiota possui conexão com o sistema nervoso central através do eixo cérebro-intestino-microbiota, que coincidentemente parece se desenvolver durante os primeiros anos de vida, fato que permanece ainda pouco conhecido (principalmente no contexto clínico/humano). Desta forma, no presente projeto, investigaremos possíveis mecanismos relacionados a moduladores comuns na comunicação cérebro-intestino-microbiota durante os primeiros mil dias de vida de bebês nascidos na cidade de São Paulo e de diferentes níveis socioeconômicos. Neste contexto tendo em vista que: 1- os endocanabinóides de origem lipídica estão envolvidos em processos de divisão, migração e amadurecimento do sistema nervoso central durante o neurodesenvolvimento, controlando, sabidamente, diversas funções comportamentais e de resiliência ao estresse; 2- que a hidrólise desses compostos podem dar origem a um grupo de n-acyl neurotransmissores e ácidos graxos; 3- que além de expresso no cérebro endocanabinóides também controlam sistemas periféricos tais como o intestino e o sistema imunológico; a presente proposta tem como hipótese, que os endocanabinóides e n-acyl neurotransmissores são mediadores comuns entre o neurodesenvolvimento e o eixo cérebro-intestino-microbiota durante os primeiros 1000 dias de vida. (AU)