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Homens de cor representados por homens de letras: uma análise de livros didáticos de História do Brasil do século XIX

Texto completo
Autor(es):
Cristina Carla Sacramento
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: Campinas, SP.
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Faculdade de Educação
Data de defesa:
Membros da banca:
Heloísa Helena Pimenta Rocha; Norma Sandra de Almeida Ferreira; Marcus Vinícius Fonseca; Manuel Jauará; Arnaldo Pinto Junior
Orientador: Heloísa Helena Pimenta Rocha
Resumo

Este trabalho analisa os discursos sobre os negros em quatro livros didáticos de História do Brasil publicados no período compreendido entre 1831 e 1887, a saber: Resumo da Historia do Brasil até 1828 (Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, 1831); Episodios da Historia Patria contados á infancia (Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, 1860); Lições de Historia do Brasil: para uso das escolas de instrucção primaria (Joaquim Manoel de Macedo, 1865) e Pequena História do Brazil por perguntas e respostas: para uso da infancia brazileira (Joaquim Maria de Lacerda, 1887). O recorte temporal foi definido em função da data de publicação das obras em consonância com a promulgação das leis abolicionistas, haja vista que, no século XIX, a escravidão ainda era vigente no Brasil, ao mesmo tempo em que ocorria uma mobilização social e política voltada para a liberdade dos sujeitos escravizados. Numa outra dimensão, o trabalho teve em vista que no final da década de 1830 foram criados o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e o Colégio Pedro II (CP II). Essas instituições foram responsáveis, respectivamente, pela coleta, arquivamento e publicação de documentos relacionados à História do Brasil e, também, pela elaboração de programas de ensino que consolidaram a História do Brasil como disciplina escolar. Nesse sentido, os livros didáticos foram o "suporte" privilegiado para o ensino dessa disciplina, cujos destinatários eram os professores e alunos das instituições de ensino, num momento em que se pretendia construir a identidade nacional. A seleção das fontes privilegiou as primeiras edições das obras analisadas ¿ e, quando isso não foi possível, trabalhou-se com o exemplar mais próximo da primeira edição ¿ destinadas à instrução primária, com o objetivo de examinar como a população negra foi representada no século XIX. As análises têm como aporte teórico as contribuições de Michel Foucault, especialmente as suas concepções sobre discurso e dispositivo, e de Roger Chartier, no que diz respeito às suas elaborações sobre a leitura do mundo como representação. Procurou-se, ainda, a partir das contribuições de Chartier, apreender os dispositivos textuais e tipográficos por meio dos quais se procurou constituir a leitura e configurar uma certa forma de pensar a população negra. Foi possível constatar que os discursos produzidos nos livros didáticos de História do Brasil analisados estavam diretamente relacionados ao projeto político levado a cabo pelos sócios do IHGB, haja vista o alinhamento de suas produções didáticas a uma perspectiva historiográfica que priorizava os grandes feitos e os grandes heróis. Nesse sentido, "os homens de letras" do império procuraram omitir ou abordar de forma superficial a escravidão, entendida como uma realidade incompatível com uma nação que se pretendia civilizada, ao passo que representaram os "homens de cor", escravizados ou livres, como casos isolados de condutas louváveis ou reprováveis, em episódios considerados significativos e até determinantes no processo de consolidação do Brasil como nação independente (AU)

Processo FAPESP: 14/15967-7 - Discursos e saberes sobre os negros em livros didáticos de História do Brasil do século XIX
Beneficiário:Cristina Carla Sacramento
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado