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Quem era o Doutor Anísio?: o desafio da ficção étnica à história social do Rio de Janeiro (1889-1916)

Texto completo
Autor(es):
Israel Ozanam
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: Campinas, SP.
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Data de defesa:
Membros da banca:
Sidney Chalhoub; Tânia Regina de Luca; Ludmila de Souza Maia; Robert Wayne Andrew Slenes; Rodrigo Camargo de Godoi
Orientador: Sidney Chalhoub
Resumo

Como reconstituir as visões de mundo das classes populares no final do século XIX e início do XX se a maior parte dos documentos referentes a elas estão marcados pelas concepções e juízos de valor da elite letrada que os escreveu? Com pequenas variações, essa pergunta metodológica tem acompanhado a história social há décadas e está no centro desta tese. Na primeira parte dela, a resposta é buscada na análise da trajetória de um certo "Doutor Anísio" como integrante de um grupo especializado em fraudes, contos do vigário e furtos em diferentes cidades brasileiras no período, sobretudo no Rio de Janeiro e, em menor grau, no Recife. Negro, pobre, alfabetizado e altamente instruído, num primeiro momento esse parece o exemplo ideal de representante de uma "cultura da gatunagem" capaz de quebrar as normas oficiais por meio da manipulação delas próprias, o que, por sua vez, se refletiria em fontes nas quais se poderia verificar não só o discurso cientificista contra os subalternos, mas também as estratégias deles postas em ação. Entretanto, a partir de um certo momento em sua trajetória, Dr. Anísio passou a não mais assumir a identidade criminal, embora esta ainda lhe fosse atribuída por autoridades e jornalistas, deixando a pesquisa no impasse de não poder continuar tratando-o como modelo de enfrentamento da cultura dominante sem indagar-se, em primeiro lugar, de onde vem a dicotomia segundo a qual a ordem instituída correspondia às visões de mundo da elite, as quais estariam em oposição às dos "populares". Desse modo, a segunda parte da tese recoloca a pergunta inicial, não mais para respondê-la e sim para questionar os pressupostos teóricos nos quais se baseia. Para isso, é reconstituída empiricamente a articulação entre literatura, etnografia e direito criminal no Brasil do final do século XIX, da qual emergiu uma forma de escrever sobre a realidade nacional no prisma da alteridade. Nela, o crime aparecia como a cultura da pobreza e das raças inferiores ao mesmo tempo em que se tentava vincular a preservação da organização social e das regras de civilidade a uma identidade letrada em construção. Transmitida pela dimensão narrativa das fontes nas quais a primeira parte da tese se baseia, essa forma de escrita, aqui chamada de "ficção étnica", foi em grande medida responsável por conferir naturalidade ao confinamento de Dr. Anísio à condição de tipo representativo da cultura da gatunagem e remete ao fato de a história vista de baixo precisar levar em conta as nuances do debate literário oitocentista de modo as evitar armadilhas teóricas dele (AU)

Processo FAPESP: 13/03914-3 - Boemia literária, crime e trabalho: a produção das diferenças em Recife nos tempos de Dr. Anísio (1875-1916)
Beneficiário:Israel Ozanam de Sousa Cunha
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado