Estudo da estabilidade de fármacos, drogas de abuso e praguicidas em amostras de sangue seco em papel, e sua aplicação na toxicologia forense

Resumo

Em análises clínicas e toxicológicas, a disponibilidade de sofisticado instrumental analítico não garante a qualidade do resultado. Elementos relativos à coleta e processamento das amostras representam um grande desafio, visto que os erros que podem ocorrer durante estas etapas possivelmente terão grande influência sobre o resultado analítico final. A técnica de manchas de sangue seco em papel (dried blood spots, DBS) tem sido amplamente utilizada em diferentes áreas das análises toxicológicas, porém seu uso em toxicologia forense ainda é pouco estudado. A DBS oferece inúmeras vantagens em relação a outros métodos de amostragem disponíveis, uma vez que a coleta de pequeno volume de amostra resulta em menores custos de transporte e armazenamento, é procedimento menos invasivo para pacientes e animais de experimentação e reduz o risco de exposição a doenças infecto-contagiosas pelo analista. A toxicologia forense é uma das disciplinas técnico-científicas que constituem as denominadas Ciências Forenses, e coloca a ciência Toxicologia a serviço da Justiça. Segundo a legislação brasileira, toda amostra submetida à análise toxicológica forense deve ser armazenada até o fim do processo judicial, garantir o direito de ampla defesa do acusado, que pode contestar a prova se assim lhe for conveniente. Contudo, o armazenamento de amostras de sangue é inviável, pois muitos toxicantes e/ou produtos de biotransformação são instáveis neste fluido biológico, mesmo quando armazenados em condições de refrigeração ou congelamento. Este projeto tem por objetivo estudar a estabilidade de fármacos, drogas de abuso e praguicidas de interesse para a toxicologia forense em amostras de sangue post mortem seco em papel, e comparar os achados com a estabilidade observada em amostras de sangue armazenadas de modo convencional (refrigeração). Serão estudadas 28 substâncias, escolhidas de acordo com a casuística no Núcleo de Toxicologia Forense (Instituto Médico Legal de São Paulo), além de substâncias que, segundo a literatura consultada, apresentam baixa estabilidade em amostras de sangue e/ou urina, mas que ainda não foram estudadas em DBS. Espera-se que a DBS seja capaz de fornecer maior estabilidade do que as amostras de sangue total armazenadas de modo convencional, sendo uma solução para o problema de armazenamento de amostras de contra-perícia - situação exigida por lei, mas ainda inviável do ponto de vista analítico. (AU)