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Elementos para uma memória discursiva do ensino de escrita: livros escolares de português (1930-2002)

Texto completo
Autor(es):
Cristian Henrique Imbruniz
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Dissertação de Mestrado
Imprenta: São Paulo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/SBD)
Data de defesa:
Membros da banca:
Manoel Luiz Goncalves Correa; Emerson de Pietri; Sirio Possenti; Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh
Orientador: Manoel Luiz Goncalves Correa
Resumo

Neste trabalho, um conjunto de dezesseis livros escolares constitui o material de partida para a investigação de uma memória do ensino de escrita no Brasil, no período de 1930 a 2002. O arcabouço teórico é constituído pela articulação entre a Análise do discurso francesa (PÊCHEUX, 2014 [1975]; COURTINE, 2014 [1981]) e fundamentos teóricos vindos da área da História (LE GOFF, 2013 [1977]; NORA, 2013 [1979]) e da Sociologia (HALBWACHS,1990 [1950]). Pensando o livro escolar como objeto variável e instável (BATISTA, 1999), o objetivo do trabalho é o estabelecimento de elementos para uma memória discursiva do ensino de escrita a partir da forma material de oito livros escolares metodicamente selecionados dentre os dezesseis inicialmente escolhidos destinados ao último ano do primeiro ciclo do secundário. Essa forma material na qual sociedade e história se plasmam evoca também as turbulências sociopolíticas do período entre 1930 e 2002, permitindo investigar permanências, antecipações e apagamentos quanto ao que se concebeu, no período,como língua, escrita e ensino de escrita. Do ponto de vista metodológico, examino aquele conjunto de oito livros escolares, cuja representatividade para cada década foi estabelecida por meio de dois critérios: o autoral-editorial e o enunciativo-discursivo. O critério autoral-editorial considera os dados editoriais de cada livro como enunciados em ruína do acontecimento discursivo de sua produção/circulação/recepção; por sua vez, o critério enunciativo-discursivo toma os elementos do gênero do discurso: conteúdo temático, estilo e construção composicional (BAKHTIN, 2016 [1979]) para descrever as propostas de produção escrita dos livros escolares quanto às ênfases dadas a cada um desses elementos. Considerada a análise realizada a partir das ênfases dadas aos elementos do gênero do discurso, que resultou, num primeiro momento, na constatação de que, entre 1930 e 1960, predominava a ênfase no conteúdo temático e, entre 1970 e 2002, na construção composicional, proponho duas categorias para constituir uma memória discursiva do ensino de escrita entre 1930 e 2002: (i) a proposta-sintagma, que foi encontrada, principalmente, em livros publicados entre 1930 e 1960; e (ii) a proposta-roteiro, que foi encontrada, principalmente, em livros publicados entre 1970 e 2002. Os resultados obtidos permitem constatar que a alternância entre proposta-sintagma e proposta-roteiro é fruto de duas concepções diferentes de trabalho que, entre 1930 e 2002, estiveram vigentes em conjunturas históricas particulares e determinaram concepções de língua, escrita e ensino de escrita. No caso da proposta-sintagma, pautada em grandes temas (invocação de semióforos) e pequenos temas (os quais,de algum modo, conclamam o sujeito a se marcar como integrante de experiências culturalmente ritualizadas) e na atenção à sintaxe da língua, predomina uma concepção de trabalho em que basta discorrer para fazer, ao passo que, na proposta-roteiro, caracterizada pela presença de conteúdo instrucional e uso de marcadores discursivos de sequenciação,predomina uma concepção de trabalho em que é preciso o fazer [do mediador] para [o aluno] fazer. A análise dessas categorias, visando às concepções de língua, escrita e ensino de escrita,levou à constituição de uma memória discursiva do ensino de escrita entre 1930 e 2002.Convivendo sob diferentes ênfases no decorrer das décadas, as formas materiais das atividades guardam pré-construídos sobre o que a sociedade retoma ou projeta como trabalho para as gerações que se sucedem: para os que terão de ocupar posições e discorrer sobre elas epara os que terão de saber como fazer, sem nenhuma certeza quanto a se lograrão apenas reproduzir um ritual de preparação ou se vão se fato encontrar as posições no lugar projetado,prometido e esperado. Para a escrita e para o ensino da escrita, a convivência de diferentes formas materiais, sintetizadas, neste trabalho, na proposta-sintagma e na proposta-roteiro,parece apontar para a atenção às contradições, as quais, se estão linguisticamente marcadas pelas concepções de língua, escrita e ensino de escrita, podem também ser remetidas, na qualidade de formas materiais de sua existência sócio-histórica, a projetos de país ligados a conjunturas sociopolíticas específicas. (AU)

Processo FAPESP: 17/24562-9 - Manuais de redação e ensino de escrita no período de 1930 a 2002: um estudo linguístico-discursivo
Beneficiário:Cristian Henrique Imbruniz
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Mestrado