A modulação da resposta imune de camundongos DO11.10 por transferência adotiva de células dendríticas diferenciadas in vitro

Resumo

As mucosas dos tratos gastrointestinal, respiratório e urogenital representam a primeira porta de entrada para a maioria dos patógenos que invadem o organismo. A resposta imune gerada no trato gastrointestinal pode apresentar características diversas, que vão desde a eliminação de agentes patogênicos até a tolerância local ou sistêmica para antígenos ingeridos na dieta. Essa resposta tolerogênica que se segue à ingestão de proteínas caracteriza-se pela ausência ou baixos níveis de anticorpos específicos circulantes e provavelmente desempenha um papel vital ao impedir as reações de hipersensibilidade aos alimentos. A tolerância oral parece depender de células T supressoras ou regulatórias presentes na região das mucosas do trato digestivo, mas as células apresentadoras de antígeno, em particular as dendríticas (DC), participam de modo decisivo no processo de tolerização. Há evidências de que as DCs podem ser ativadas por citocinas que ativam o metabolismo da L-arginina, criando um ambiente redutor na região das sinapses imunológicas, que interfere com a apresentação antigênica para os linfócitos T. Os camundongos DO11.10, linhagem transgênica portadora de TCR anti-OVA, desenvolvida para estudos de tolerância central, também são muito utilizados na investigação da tolerância periférica. Diversos autores têm mostrado resultados que sugerem a susceptibilidade desse animal à tolerância de mucosa pela ingestão de OVA Entretanto, estudos publicados por nosso grupo demonstraram que camundongos da linhagem DO11.10 produzem altos níveis de anticorpos mesmo após a ingestão de quantidades variadas de OVA. As DCs coletadas dos transgênicos imunizados por via i.p. ou oral são capazes de estimular a proliferação de células T antígeno-específicas em cultura, ao contrário das células dendríticas obtidas dos camundongos BALB/c, que se tornaram tolerantes pela ingestão de OVA. Além disso, a transferência de células esplênicas naive de camundongos BALB/c foi capaz de quebrar a tolerância induzida em camundongos BALB/c que ingeriram OVA, mas promoveu o aumento das respostas imunes específicas nos camundongos transgênicos. Nesse trabalho, analisaremos o efeito da transferência adotiva de DCs sobre a resposta imune de camundongos transgênicos da linhagem DO11.10, resistentes à indução de tolerância pela ingestão voluntária do antígeno, e de sua contraparte, o camundongo BALB/c. As DCs serão diferenciadas in vitro a partir de precursores da medula óssea de camundongos BALB/c normais, através do cultivo na presença de CSFs. As DCs diferenciadas serão moduladas com citocinas (IL-10, TGF-beta, LPS, TNF-alfa) ou com os inibidores do metabolismo da arginina (N-nitro-L-arginina metil ester, L-NAME e; N-hidroxi-L-arginina, NOHA), analisadas fenotipicamente por citometria e então transferidas para os camundongos previamente ou posteriormente tratados com OVA pela via oral. Parte desses animais será desafiados com OVA por via i.p. Os níveis de anticorpos específicos serão detectados por ELISA nos soros dos camundongos de todos os grupos experimentais. A proliferação antígeno-específica e a produção de citocinas (IL2, IL-4, IFN-gama e TGF-beta) de células de baço e linfonodos mesentéricos desses animais também serão investigadas.