Resumo
Durante a idade reprodutiva e especificamente durante a gestação, a saúde da mulher tem um impacto profundo na saúde do seu filho, tanto no período intrauterino como na infância. Desde a década de 70, estudos têm mostrado a relação existente entre níveis maternos diminuídos de folato e aumento do risco para defeitos do tubo neural no feto. Com isso, muitos países estabeleceram como política pública de saúde a suplementação de ácido fólico para mulheres no período pré-gestacional e primeiro trimestre da gestação. Além disso, alguns países adotaram a fortificação mandatória das farinhas com ácido fólico com o objetivo de reduzir a incidência dos defeitos de tubo neural. O ácido fólico refere-se ao composto sintético oxidado, ao passo que folato refere-se aos vários derivados de tetrahidrofolato encontrados naturalmente nos alimentos. Estudos tem identificado a presença de ácido fólico não metabolizado no sangue em virtude do seu consumo excessivo oriundo de suplementos e alimentos fortificados. Tal ácido fólico livre está associado ao risco aumentado de doenças durante a vida adulta, como por exemplo, cânceres de mama, próstata e cólon. Além disso, essa quantidade excessiva de ácido fólico pode não ser tão eficaz na prevenção de defeitos do tubo neural, o que implica em uma relação em forma de U entre o ácido fólico e risco para defeitos do tubo neural; no entanto, não há consenso na literatura sobre essas relações. No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde é suplementar todas as mulheres com 5000 ¼g por dia de ácido fólico no período pré-gestacional e primeiro trimestre da gestação. Além disso, a ingestão dietética de ácido fólico das mulheres brasileiras aumentou desde a introdução da fortificação mandatória das farinhas de trigo e milho, ocorrida em 2004. Em contraposição, a recomendação do Ministério da Saúde da Nova Zelândia é suplementar as mulheres com 800 ¼g de ácido fólico por dia durante 4 semanas antes e 12 semanas após o início da gestação. A Nova Zelândia não adotou a fortificação mandatória das farinhas com ácido fólico. A diversidade populacional do Brasil e da Nova Zelândia e as diferenças entre as políticas públicas de saúde com folato entre Brasil e Nova Zelândia propiciam uma valorosa oportunidade de estudo das interações entre ingestão materna de ácido fólico, etnias, cultura e ambiente com a saúde da criança. Obtendo vantagem dessa diversidade, pode-se obter um conhecimento aprofundado do processo saúde-doença, suas causas, e sua distribuição, que irá beneficiar á todos. Este projeto tem como objetivo comparar a ingestão de ácido fólico durante a gestação em dois estudos de coorte de nascimentos: o estudo ProcriAr no Brasil e o estudo Growing Up in New Zeland na Nova Zelândia. Será conduzida uma revisão da literatura para melhor entendimento das diferenças entre os países em relação aos aspectos sócias e econômicos, hábitos dietéticos, saúde materno-infantil, recomendação de ácido fólico e políticas públicas de saúde relacionadas a este campo. Análise descritiva das características da população será apresentada com o objetivo de caracterizar e comparar os países (medidas de tendência central e dispersão, testes para comparação de média e proporção). A prevalência do uso de suplemento de ácido fólico também será descrita. Os fatores associados com o uso inadequado de suplemento de ácido fólico na gestação em ambos os países serão investigados por análise de regressão múltipla. Idade materna e fatores antropométricos, sócio-demográficos e de estilo de vida serão considerados nessas análises. A relação entre ácido fólico (momento do uso e quantidade de suplemento de ácido fólico ingerida) e desfechos na criança será estudada utilizando análise de regressão múltipla.
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