Resumo
A Organização Mundial de Saúde classifica o envenenamento por serpentes uma doença negligenciada em muitos países tropicais e subtropicais. No Brasil, ocorrem duas famílias de serpentes peçonhentas, a família Elapidae (representada pelo gênero Micrurus) e a família Viperidae (representada pelos gêneros Bothrops, Bothrocophias, Crotalus e Lachesis). Dentre esses grupos, o gênero Bothrops é a que representa maior importância para a saúde pública, pois são responsáveis pela maioria dos acidentes ofídicos registrados no Brasil. A serpente Bothrops pauloensis era antigamente classificada como B. neuwiedi pauloensis, uma subespécie dentro do "complexo neuwiedi". Porém, após a revisão taxonômica realizada em 2008, esse grupo foi elevado à categoria de espécie. A Bothrops pauloensis possui uma ampla distribuição geográfica, podendo ser encontrada em uma grande área do Brasil, no Paraguai e na Bolívia. Esta espécie habita áreas de cerrado, possui uma dieta generalista e apresenta uma variação ontogenética na dieta, que altera suas presas de ectotérmicos para endotérmicos. Os efeitos de sua picada em humanos são semelhantes à de outras Bothrops, que é caracterizado com três atividades fisiopatológicas: proteolítica, coagulante e hemorrágica. Os venenos de serpentes apresentam heterogeneidade considerável, tanto de forma quantitativa como qualitativa. Essa variação ocorre de forma intra e interespecífica, de acordo com a sazonalidade, distribuição geográfica, idade e sexo. Desta forma, o estudo dessas variações e o controle de qualidade desses venenos tem sido objeto de intensa investigação, vista a sua utilização na produção de soros antiofídicos e em busca de novos produtos de interesse biotecnológicos. Alterações ontogenéticas na composição do veneno são observadas em diferentes espécies de serpentes, como em algumas espécies do gênero Crotalus, em Lachesis muta e outras espécies do gênero Bothrops. Visto que o veneno de filhotes e de adultos causam efeitos patológicos distintos, e que o soro pode apresentar menor eficácia na neutralização de envenenamento por serpentes filhotes em relação aos adultos, é de suma importância entender a variabilidade ontogenética do veneno das serpentes, como a B. pauloensis. Com isso, o presente estudo terá como objetivo analisar e comparar o veneno de B. pauloensis de diferentes idades, buscando elucidar os mecanismos envolvidos na captura das presas ao longo do desenvolvimento destes animais e melhorar o tratamento do envenenamento por serpentes. (AU)
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