Abram Jagle e Tamás Szmrecsányi contam no livro Pesquisa & Desenvolvimento:
“A modernização da pesquisa científica em São Paulo começou no fim da década de 1920, principalmente por iniciativa de organizações estrangeiras, cujos auxílios visavam melhorar as condições de ensino e trabalho nas faculdades profissionais e trabalho nas faculdades profissionais e nos institutos das Secretarias de Estado. Não existia na época a Universidade de São Paulo (USP).
A criação desta trouxe um súbito influxo de professores estrangeiros de alto nível e intensificou a ida de brasileiros ao Exterior com bolsa de estudos. Criou-se, em decorrência, uma primeira massa crítica de consciência científica e tornaram-se claros aos olhos dos profissionais os problemas que mais inibem o progresso científico dos países subdesenvolvidos. As universidades e institutos de pesquisa, mantidos na maioria pelo governo, costumam ser submetidos às mesmas regras e práticas administrativas que os órgãos da administração geral. As consequências são facilmente previsíveis.
Por um lado a estrutura dos orçamentos é frequentemente defeituosa, deixando atividades importantes sem cobertura financeira, ou mesmo inteiramente excluídas. Por outro, o fornecimento das verbas consignadas nem sempre é feito de acordo com as necessidades ou mesmo com os programas pré-estabelecidos. Esses defeitos, que causam danos notórios à maquina administrativa, são, no campo da pesquisa, mutilantes. No mais das vezes o fato impediente não é a insuficiência total de recursos, mas a má distribuição e o fornecimento irregular.
Assim sentia-se, há muito, a necessidade de um organismo que tivesse dinheiro à mão e flexibilidade no seu uso, suficientes para corrigir, a curto prazo pelo menos, as piores deficiências estruturais. Já existia o modelo das fundações estrangeiras, que permitiam resolver com eficiência problemas como aquisição de equipamentos, bolsas no Exterior, contratação de cientistas visitantes, recursos de pronto desembolso para pequenas despesas urgentes, etc.
Uma primeira tentativa nesse sentido foi a criação, na década de 1940, dos Fundos Universitários de Pesquisa pela Universidade de São Paulo. Apesar da exigüidade dos recursos de que dispunham, alcançaram notável sucesso. A experiência evidenciou dois pontos básicos para que esse tipo de iniciativa tivesse sucesso: que os recursos fossem constantemente disponíveis e, principalmente, que independessem de flutuações anuais.
Quando se votava a Constituição Estadual de 1947, a comunidade científica de São Paulo conseguiu introduzir entre as disposições transitórias o artigo 123, que mandava o Estado constituir uma fundação de amparo à pesquisa, à qual destinaria parcela não inferior a 0,5% da receita ordinária do Estado. Estavam assim atendidos os dois pontos básicos mencionados acima: a fundação independeria da execução do orçamento estadual e poderia prever com precisão sua receita, garantida por dispositivo constitucional.
Contudo, o cumprimento desse dispositivo dependia de regulamentação por lei ordinária e esta não foi imediatamente promulgada.”
Ref.: JAGLE, A. e SZMRECSÁNYI, T. Pesquisa & Desenvolvimento. São Paulo: FAPESP, 1973, p. 13.